Aventuras e desventuras dos professores, formadores, contratados ou a recibos-verdes que leccionam na Escola Pública, Profissionais, Colégios, IEFP's, Casa Pia, TEIP's em cursos de UFCD's, EFA's, EFJ's, CNO's, AEC's PIEF's, ...

Aceitam-se contributos: eanossaescolinha@gmail.com



terça-feira, 31 de maio de 2011

MUITO À MODA DA MLR...

Nova Iorque: Alunos vão dar nota a professores 

O sistema de educação da cidade de Nova Iorque está a desenvolver uma série de testes padronizados, para serem efetuados pelos alunos, mas cujos resultados irão avaliar os seus professores. A notícia, destinada a lançar um debate sobre o assunto, acrescenta que quem tenha resultados negativos ao longo de dois anos corre o risco de ser despedido. 

Acho que já tive oportunidade de o dizer por aqui...já tive a experiência de dar aulas na escola de ranking cá da terra. Este ano, no entanto, estou numa escola TEIP situada num dos bairros mais problemáticos do país.

Na primeira escola, o aluno-tipo fazia parte da classe média, média-alta. De uma maneira geral, os pais valorizavam a escola, o percurso da esmagadora maioria dos alunos passava por ingressar nas melhores faculdades do país. Muito estudo, atitudes normais em sala de aula, muitas (mas mesmo muitas) explicações fora da escola. Nem que o professor fosse uma arara, entre o livro de estudo, livros extra de exercícios e explicações, a maioria dos alunos conseguiria preparar-se para um qualquer exame nacional.

Na TEIP, o aluno-tipo faz parte da classe baixa. De uma maneira geral, os pais não conseguem acompanhar a vida académica dos filhos, muita família destruturada. Droga e violência fazem parte do dia-a-dia de muitos dos nossos alunos. Pouco estudo (até porque o ambiente em casa nem sempre dá para isso...), dificuldade em adquirir materiais essenciais (tenho alunos a quem tive de emprestar livros, senão nunca os teriam em sala de aula), falta de concentração e de bases. Fora da escola as principais actividades dos alunos são ou deambular pelo bairro ou ajudar a tratar dos (muitos) irmãos mais novos (porque, convenhamos numa casa com 10 filhos há sempre coisas para fazer...).  Por muito que a escola se esforce, o horizonte académico destes jovens é, na generalidade, o 9º ano, muitas vezes feito através de currículo alternativo ou em regime de aprendizagem.

Se me tentassem avaliar com um teste feito pelos meus alunos, eu seria um espectáculo na escola de ranking e provavelmente seria despedida na TEIP decorridos os dois aninhos (porque continuaria a ter de certeza alunos a dizer-me "eh stôra! Deixe lá isso! Já sabe que eu marquei as cruzes ao calhas!")...é a justiça deste tipo de avaliações bacocas pensadas por gente que vive em gabinetes e que até morria se tivesse que enfrentar o mundo real nem que fosse apenas por um ano - olh'á baixa médica!...

Ou então, porque ter problemas? Quem já não ouviu histórias de colégios onde as respostas são comentadas em voz bem audível por professores no corredor junto às salas onde decorrem os exames, assim como quem não quer a coisa?...

lkl

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de ver aqui sugerido um tipo de avaliação para os professores! Isso sim seria um bom contributo para o debate de ideias!!

Ana Luísa Costa Carneirinho disse...

Ao anónimo, a avaliação dos professores, como a de qualquer profissional, tem de passar por critérios objectivos, como a assiduidade, a responsabilidade e o empenho nas tarefas que lhe são confiadas. Não pode passar por variáveis que lhe são alheias como o facto do aluno estudar ou não. A ser assim, exijo que o abono de famíla passe a ser proporcional aos resultados académico dos alunos. A responsabilidade dos alunos estudarem em casa e de levarem o material para a escola e de não faltarem é dos pais, ou não?

Prof.º Macambúzio disse...

Também para o Anónimo.
Então e porque não colocou aqui o seu contributo?

Os professores nunca "foram vistos nem achados" para o debate das ideias. Infelizmente o que podemos fazer é criticar (positivamente ou negativamente) os critérios de avaliação sugeridos e impostos. Na grande maioria das situações apresentadas os professores não podem fazer outra coisa senão contestar o que é apresentado.

Tenho a certeza que a existência de um modelo de avaliação que espelhe a realidade do desempenho dos bons e maus professores não pode ser idealizado e implementado no tempo que os políticos necessitam.

O que o post tentou demonstrar é as injustiças que podem surgir de um qualquer modelo implementado que não contemple todas as variáveis. O modelo deverá conseguir distinguir os bons, médio e maus professores, os que dão tudo aos seus alunos, às famílias e às escolas mas tendo em conta um enorme conjunto de variáveis: os meios socioculturais em que as escolas estão integradas, as condições que as escolas proporcionam aos professores, o nível de competências das turmas, o envolvimento das famílias, etc.

É complicado não é? Por isso é que devia ter sido feito com toda a tranquilidade e ouvindo todos os interessados no processo.

Sabe que a motivação (ou a tão chamada produtividade) não se conquista apenas com mais dinheiro. O elogio pela qualidade do trabalho desenvolvido faz milagres a todos os profissionais. Quando um professor está a centenas de kms de casa, onde deixou um filho pequeno e o conjugue e está contratado, ou seja, para o ano logo se vê, que nem horário completo possui, ou seja, ganha uma miséria e no final do ano lectivo é avaliado de forma nada rigorosa, insensível e injusta o que pensará este professor(a)?