Aventuras e desventuras dos professores, formadores, contratados ou a recibos-verdes que leccionam na Escola Pública, Profissionais, Colégios, IEFP's, Casa Pia, TEIP's em cursos de UFCD's, EFA's, EFJ's, CNO's, AEC's PIEF's, ...

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sábado, 5 de março de 2011

É CARNAVAL


Eu nunca liguei ao Carnaval. Lembro-me de em pequena estar sempre ansiosa no dia de ir mascarada para a escola, temendo que a minha mãe se tivesse enganado na data e que eu fosse a única criança a chegar à escola de fato de Carnaval. Isso seria para mim uma humilhação difícil de ultrapassar. Porque a palhaçada que envolve o Carnaval teve sempre para mim muito mais de ridículo que de engraçado.

Mas este ano estou na escolinha TEIP. E lá no bairro o Carnaval é uma coisa levada muito a sério. Na verdade, para aqueles sítios cumpre-se o ditado "Carnaval é quando um homem quer" e vai daí...desde Janeiro que andamos a gramar bombinhas de mau cheiro que só começaram a rarear quando aos prevaricadores que eram apanhados se começaram a instaurar processos disciplinares e penas de 10 dias de suspensão.

Entretanto, a polícia deu-se ao trabalho de ir à escola fazer sessões de sensibilização sobre o perigo dos explosivos no Carnaval. Explosivos. Não bombinhas. E aí eu comecei a ficar nervosa.

Durante a semana, em dia de reuniões tardias, tenho uma colega a ligar-me com hora e meia de antecedência: "eh pá, vem já, antes da hora de saída dos miúdos, porque estão a mandar bombas de água a partir do bairro". Bombas. Não balões. Eu sou muito picuinhas com estas escolhas de palavras...

E 6ªF de Carnaval chegou. Muitos miúdos mascarados. Com pijamas. Assim tal qual saíram da cama. Porque, lá está, é Carnaval e é giro ir de pijama para a escola (se formos ser mesmo rigorosos, miúdos de pijama na escola não é invulgar. As calças caídas pelo rabo abaixo deixam muitas vezes adivinhar umas belas ceroulas de flanela aos bonequinhos e os próprios miúdos admitem que vestem a roupa por cima do pijama "porque está frio". Mas não é costume o trajo de dormir completo assim à descarada. E na 6ªF eram muitos pijaminhas a pulular lá pelo recreio. Muitos deles de xuxa na boca roubada com certeza a um dos (muitos) maninhos mais novos...).

Afinal, e ao contrário do que eu temia, a coisa até foi pacífica. Certo que para isso terá contribuído a suspensão das aulas às 12h. Acaba tudo. A partir dessa hora, não há meninos dentro da escola.

Passámos à fase seguinte - a dos professores barricados na sala dos professores porque "se consta" que há grupos em sítios estratégicos do bairro preparados com balões de água. E de lixívia. E de ácido muriático. E de xixi. Realidade ou mito urbano alimentado por experiências de anos anteriores, o certo é que, e apesar de todas as actividades estarem suspensas, a sala de professores esteve durante uma bela hora anormalmente cheia, com tudo sentado em cadeiras a fazer roda e a conversar amenamente como se de um serão familiar se tratasse.

Até que uma colega mais afoita (e cheia de vontade de fumar um cigarrinho) se aventurou até ao portão e veio com a notícia que "está tudo calmo agora". E, de facto, estava. Pequenos grupos permaneciam nas escadas exteriores dos prédios à coca e em silêncio, pequenos balões nas mãos, mas pareciam concentrar a sua atenção nos pátios interiores do bairro. Ou então só estavam à espera que lhes desse mais vontade de fazer xixi para as munições. Nunca saberemos. Preferimos sair discretamente e não levantar questões.

Que isto de Carnaval é muito giro, mas para palhaçada, já basta o resto do ano...

hgh