Quando for ao fundo...

Na minha escolinha, anda muito em voga a frase "quando for ao fundo, é para todos" (ou, por outras palavras, "quando fôgue ao fundo, é paga todos"). Ora esta é uma frase de que gosto muito, remete-nos para um universo de igualdade e democracia que nos reconforta em momentos de crise. É, na sua simplicidade, uma frase profunda a lembrar momentos difíceis em que a solidariedade fala mais alto, se cerram os punhos, se olham os outros nos olhos: "O que te acontecer, acontecer-me-à a mim; quando for ao fundo, é para todos"...e no entanto...perdoem-me esta minha fraqueza, este meu cepticismo congénito...por muito bonita que seja, a verdade da frase esbarra com as evidências do dia-a-dia.
De facto, o que não falta na História são casos em que "isto foi ao fundo"...mas não para todos. Quando "isto for ao fundo", o Sr. Trichet ter-se-à já acautelado com as suas propriedades, enquanto que o comum cidadão se debaterá com a desvalorização do dinheiro e o desemprego; quando "isto for ao fundo", os senhores Sócrates, Sarkozy e Zapatero, terão sempre um tachinho assegurado na Europa; quando "isto for ao fundo", as multinacionais deslocar-se-ão simplesmente para mercados emergentes, onde os salários de miséria compensarão as perdas, de forma a garantir os lucros dos gestores e accionistas...
À escala, também na nossa escolinha, quando "isto for ao fundo", haverá sempre um tachinho preparado pelo partido para preservar a qualidade de vida dos do costume. O mexilhão bem pode rebentar contra a rocha que a madeira podre flutuará sempre. Por isso, que me perdoem os defensores da liberdade, igualdade e fraternidade, mas sempre que ouvir "quando for ao fundo, é para todos", terei de acrescentar mentalmente"...para todos os que não tenham o cartãozinho do partido".
Olhó Taxo