Aventuras e desventuras dos professores, formadores, contratados ou a recibos-verdes que leccionam na Escola Pública, Profissionais, Colégios, IEFP's, Casa Pia, TEIP's em cursos de UFCD's, EFA's, EFJ's, CNO's, AEC's PIEF's, ...

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domingo, 5 de dezembro de 2010

O DIA EM QUE LEVEI UMA ABADA A HISTÓRIA DA MINHA FILHA DE 7 ANOS

Este é um blog de educação escrito geralmente na perspectiva dos professores. Mas a comunidade educativa integra também os alunos, os funcionários e, muito importante, os Encarregados de Educação.

O texto que se segue foi enviado por mail por uma mãe. E que eu reproduzo na íntegra.

"Eu gosto muito de histórias. E nesse sentido gosto de livros históricos e filmes épicos. Por causa das tricas, das amantes, dos bastardos e dos filhos da mãe traidores que pululam por esses tempos fora. Especialmente quando os maus são castigados em grande, para mitigar a minha sede de justiça. Daí a gostar de História, vai um passo gigantesco - gosto dos episódios sórdidos, das personagens sinistras, das atitudes heroicas, mas - é um facto - nunca me dou ao trabalho de decorar datas nem de contextualizar a acção no momento histórico correcto.

Assim, quando hoje, 1 de Dezembro, durante uma ida às compras com a minha filha R., lhe pergunto qual o motivo do feriado, estava a ser genuína. Não a armar-me em mãezinha que quer avaliar os conhecimentos da sua filha de 7 anos. Eu sei que a professora dela costuma falar dos feriados e quis mesmo aproveitar para saber sem me dar ao trabalho de procurar a informação.

- Olha, mãe, nós lemos um texto sobre isso na escola. Tem a ver com reis espanhois que estavam em Portugal. E depois os portugueses voltaram a governar o país.

- Ah! A Restauração da Independência!

- Pois. Os reis espanhois chamavam-se Filipes e o português era o rei João.

Pronto. Aí fez curto-circuito na minha cabeça. Eu tinha lido no Verão o livro da Stilwell sobre a Filipa de Lencastre. E D.João a lutar contra os espanhois passou a ser para mim o Mestre de Avis, assim numa viagem aluciante de mais de 200 anos para trás.

- Os reis espanhois governavam muitas terras e não podiam estar sempre em Portugal, por isso havia uma traidora que governava por eles - continuou a R.

- Sim! Leonor Teles! - digo eu entusiasmada.

Aí a R. fica um bocado confusa:

- Leonor Teles? Não era esse o nome que vinha no texto. Era uma duquesa. Uma duquesa de Mântua, ou assim.

- Se calhar a Leonor Teles era uma duquesa, não sei. Mas este era o nome dela. Uma mulher vil que controlava o país com o Conde de Andeiro.

- Conde de Andeiro? Não me lembro. Havia era outro traidor, chamado Miguel.

- Eh pá, se se chamava Miguel, não sei. Geralmente, fala-se nele como Conde de Andeiro. Acho até estranho que no texto que tenhas lido lhes dêm esses nomes. Tens o texto em casa para eu depois ler?

- Não. Bem, depois o rei de Portugal, João IV...

- João IV?!? Oh R., não te estás a enganar? Eu tenho a certeza que é D. João I, o Mestre de Aviz.

- Não, mãe. Isso tenha a certeza. D. João IV.

E eu, numa derradeira demonstração de ignorância :

- Bem, se calhar é mesmo D. João IV, Mestre de Avis...

E passei o resto do caminho a debitar toda a minha cultura sobre o Mestre de Aviz, Filipa de Lencastre e a respectiva descendência.

Quando chegámos a casa, chamo-a para junto de mim:

- Olha R., vamos lá aqui á Internet para tirar a limpo a história dos nomes do texto que leste na escola.

E foi aí que eu fiquei assim a modos que com vontade de bater com a cabeça no teclado. Muitas, muitas vezes. Porque agora nunca mais me esquecerei da efeméride do 1º de Dezembro. Foi quando levei uma abada a História da minha filha de 7 anos. "


1 comentário:

Pica-Mula! disse...

Confundiste a padeira!!