Aventuras e desventuras dos professores, formadores, contratados ou a recibos-verdes que leccionam na Escola Pública, Profissionais, Colégios, IEFP's, Casa Pia, TEIP's em cursos de UFCD's, EFA's, EFJ's, CNO's, AEC's PIEF's, ...

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

UMA VISITA DE ESTUDO A MAFRA

Uma professora de uma escolinha profissional acompanhou duas turmas do 12º ano numa visita de estudo a Mafra. As coisas correram tão bem que foi preciso fazer participação disciplinar de dois alunos. Segue a descrição dos factos na primeira pessoa.

Dedicado aos professores Comigo Não Há Indisciplina Nem Eu Permito.

Acompanhei duas turmas, juntamente com uma colega, numa visita de estudo ao Palácio Nacional de Mafra. A visita compunha-se da parte da manhã de uma visita guiada ao palácio e da parte da tarde de um teatro produzido pelo Teatro Nacional D. Maria II, também no palácio.

Se a visita da parte da manhã decorreu de forma mais ou menos normal, apesar da exuberância já habitual de alguns elementos, já o mesmo não se pode dizer do teatro que decorreu da parte da tarde.

O teatro começou às 15h00. Combinámos com os alunos que, depois da visita guiada, que terminou perto das 13h00, poderiam almoçar por conta própria nas imediações e marcámos encontro no palácio às 14.30. Por volta das 14.40 todos os alunos estavam presentes. A 5 minutos do teatro começar, o G. vem-me pedir para ir comprar tabaco, de que precisava urgentemente. Claro que não autorizei, o que o parece ter deixado muito perturbado.

O teatro compunha-se de vários actos. O primeiro passava-se numa antecâmara de uma capela, e os restantes na própria capela, num anfiteatro improvisado. Na antecâmara reparei logo que um grupo dos nossos alunos estava falador e exuberante, pelo que me fui sentar junto desse grupo no anfiteatro. Sentei-me à frente do G. e do D. (que nem sequer é meu aluno...). Foi então que me dei conta do forte cheiro a cerveja. A atitude dos 2 era desadequada e perturbava as pessoas á volta. O D. tinha os óculos de sol postos que lhe retirei e pendurei na gola da minha camisola. Virei-me várias vezes para trás, sendo recebida por “mas o que é que nós estamos a fazer?”. A menina sentada ao lado do D. estava nitidamente incomodada, ao ponto da própria professora lhe ter perguntado se queria trocar de lugar com ela. Mandei (em voz, baixa, claro) o D. mudar para um lugar vazio à minha frente. Tive de o fazer várias vezes e o aluno só anuiu quando o ameacei com falta à tarde toda. Uma vez no lugar da frente, estava sempre a olhar para trás.

Entretanto, o G. começa a pedir-me para ir à casa de banho, que estava aflitíssimo. Recusei. A cena volta a passar-se com o D.. Que não aguentava. Repetiu (e incomodou) tanto que eu, convencida que tanta aflição se devia a excesso de bebida, que lhe teria de facto enchido a bexiga e, por outro lado, o tinha deixado notoriamente alterado, revelando atitudes tão desadequadas, achei que talvez incomodasse menos os presentes se ele saísse e acalmasse. Mal o D. sai, o G. começa a repetir o quão aflito estava. Tendo deixado sair um, disse ao G. que quando o D. voltasse, esperasse por uma mudança de acto para o fazer. Quando o G. se levanta, a régie que acompanhava o espectáculo, interrompe e diz através do microfone que quem sai já não volta a entrar e que há um grupo que está a perturbar seriamente o espectáculo. O G. sai à mesma e o D. volta-se na direcção da régie fazendo gestos tipo “mas que estamos nós a incomodar?”.

Depois desta confusão, que envergonharia qualquer pessoa sóbria e lúcida, o D. volta-se para mim, de telemóvel na mão, e diz que tem de sair porque tem uma chamada urgente a fazer. Relembro que estávamos a meio do teatro. Eu não podia levantar a voz, não podia mandá-lo sair e sentia que o que lhe dizia esbarrava no estado pouco lúcido do aluno. Repeti-lhe muitas vezes (o D. mantinha o pedido de forma repetitiva e sistemática) que não podia usar o telemóvel (tinha sido uma das advertências dos actores no início do espectáculo), que não podia sair, que faltava pouco para o espectáculo acabar. Depois de minutos nisto, decide sair por conta própria.

No final do espectáculo, os actores agradeceram a presença do público, apesar de “alguns xixizinhos e de alguns cocozinhos”. Enquanto um dos actores dizia esta frase, outro fez o gesto que representa beber, demonstrando ter percebido o estado alterado dos alunos. Já fora do teatro, uma professora de outra escola abeira-se de mim e diz “tem cá umas peças…é preciso paciência…”

Alterada, ordenei que todos os alunos seguissem de imediato para a camioneta. Faltavam o G. e o D.. Os colegas telefonaram-lhes e disseram-me que estavam a discutir com o senhor do café porque o D. pensava que já tinha pago, mas afinal não o tinha feito…

Foi nessa altura que telefonei para o telemóvel da Directora Pedagógica. Que me diz que eu sou responsável pelos alunos e que a camioneta terá de esperar por eles o tempo que for preciso.

Chegaram enfim os dois e o D. informa-me que afinal tem de voltar ao café porque se esqueceu lá dos óculos de sol. Que eu tinha da gola da minha camisola.

Foi para mim a visita mais confrangedora que acompanhei. Os alunos, e o D. em particular, não demonstraram perceber, talvez devido ao estado alterado, que tinham sequer errado. Demonstraram não conseguir acatar regras básicas e incapacidade para estar com uma atitude normal num lugar público. Foram irresponsáveis e tenho razões para pensar que estariam embriagados ou sob o efeito de estupefacientes. São alunos que eu não voltaria a acompanhar tão cedo numa actividade fora da escola.



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