Uma professora de uma escolinha profissional acompanhou duas turmas do 12º ano numa visita de estudo a Mafra. As coisas correram tão bem que foi preciso fazer participação disciplinar de dois alunos. Segue a descrição dos factos na primeira pessoa.
Dedicado aos professores Comigo Não Há Indisciplina Nem Eu Permito.
Se a visita da parte da manhã decorreu de forma mais ou menos normal, apesar da exuberância já habitual de alguns elementos, já o mesmo não se pode dizer do teatro que decorreu da parte da tarde.
O teatro começou às 15h00. Combinámos com os alunos que, depois da visita guiada, que terminou perto das 13h00, poderiam almoçar por conta própria nas imediações e marcámos encontro no palácio às 14.30. Por volta das 14.40 todos os alunos estavam presentes. A 5 minutos do teatro começar, o G. vem-me pedir para ir comprar tabaco, de que precisava urgentemente. Claro que não autorizei, o que o parece ter deixado muito perturbado.
O teatro compunha-se de vários actos. O primeiro passava-se numa antecâmara de uma capela, e os restantes na própria capela, num anfiteatro improvisado. Na antecâmara reparei logo que um grupo dos nossos alunos estava falador e exuberante, pelo que me fui sentar junto desse grupo no anfiteatro. Sentei-me à frente do G. e do D. (que nem sequer é meu aluno...). Foi então que me dei conta do forte cheiro a cerveja. A atitude dos 2 era desadequada e perturbava as pessoas á volta. O D. tinha os óculos de sol postos que lhe retirei e pendurei na gola da minha camisola. Virei-me várias vezes para trás, sendo recebida por “mas o que é que nós estamos a fazer?”. A menina sentada ao lado do D. estava nitidamente incomodada, ao ponto da própria professora lhe ter perguntado se queria trocar de lugar com ela. Mandei (em voz, baixa, claro) o D. mudar para um lugar vazio à minha frente. Tive de o fazer várias vezes e o aluno só anuiu quando o ameacei com falta à tarde toda. Uma vez no lugar da frente, estava sempre a olhar para trás.
Entretanto, o G. começa a pedir-me para ir à casa de banho, que estava aflitíssimo. Recusei. A cena volta a passar-se com o D.. Que não aguentava. Repetiu (e incomodou) tanto que eu, convencida que tanta aflição se devia a excesso de bebida, que lhe teria de facto enchido a bexiga e, por outro lado, o tinha deixado notoriamente alterado, revelando atitudes tão desadequadas, achei que talvez incomodasse menos os presentes se ele saísse e acalmasse. Mal o D. sai, o G. começa a repetir o quão aflito estava. Tendo deixado sair um, disse ao G. que quando o D. voltasse, esperasse por uma mudança de acto para o fazer. Quando o G. se levanta, a régie que acompanhava o espectáculo, interrompe e diz através do microfone que quem sai já não volta a entrar e que há um grupo que está a perturbar seriamente o espectáculo. O G. sai à mesma e o D. volta-se na direcção da régie fazendo gestos tipo “mas que estamos nós a incomodar?”.
Depois desta confusão, que envergonharia qualquer pessoa sóbria e lúcida, o D. volta-se para mim, de telemóvel na mão, e diz que tem de sair porque tem uma chamada urgente a fazer. Relembro que estávamos a meio do teatro. Eu não podia levantar a voz, não podia mandá-lo sair e sentia que o que lhe dizia esbarrava no estado pouco lúcido do aluno. Repeti-lhe muitas vezes (o D. mantinha o pedido de forma repetitiva e sistemática) que não podia usar o telemóvel (tinha sido uma das advertências dos actores no início do espectáculo), que não podia sair, que faltava pouco para o espectáculo acabar. Depois de minutos nisto, decide sair por conta própria.
No final do espectáculo, os actores agradeceram a presença do público, apesar de “alguns xixizinhos e de alguns cocozinhos”. Enquanto um dos actores dizia esta frase, outro fez o gesto que representa beber, demonstrando ter percebido o estado alterado dos alunos. Já fora do teatro, uma professora de outra escola abeira-se de mim e diz “tem cá umas peças…é preciso paciência…”
Alterada, ordenei que todos os alunos seguissem de imediato para a camioneta. Faltavam o G. e o D.. Os colegas telefonaram-lhes e disseram-me que estavam a discutir com o senhor do café porque o D. pensava que já tinha pago, mas afinal não o tinha feito…
Foi nessa altura que telefonei para o telemóvel da Directora Pedagógica. Que me diz que eu sou responsável pelos alunos e que a camioneta terá de esperar por eles o tempo que for preciso.
Chegaram enfim os dois e o D. informa-me que afinal tem de voltar ao café porque se esqueceu lá dos óculos de sol. Que eu tinha da gola da minha camisola.
Foi para mim a visita mais confrangedora que acompanhei. Os alunos, e o D. em particular, não demonstraram perceber, talvez devido ao estado alterado, que tinham sequer errado. Demonstraram não conseguir acatar regras básicas e incapacidade para estar com uma atitude normal num lugar público. Foram irresponsáveis e tenho razões para pensar que estariam embriagados ou sob o efeito de estupefacientes. São alunos que eu não voltaria a acompanhar tão cedo numa actividade fora da escola.
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